terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Morre Matthew Lipman

Matthew Lipman, o pai da filosofia para crianças morreu no último domingo (26/12) em Nova Jersey.

Matthew Lipman (nascido em 24 de agosto de 1922, em Vineland, Nova Jersey , faleceu em 26 de dezembro de 2010, em West Orange, New Jersey ) é reconhecido como o fundador do programa de Filosofia para Crianças

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Filosofia para Crianças

Alice, Alice, Alice!


por Jornal Comércio do Seixal e Sesimbra
Nos próximos domingos, 17, 24 e 31 de Outubro, pelas 16h00, sobe ao palco do Cinema S. Vicente a peça de teatro infantil «Alice, Alice, Alice», uma versão do clássico «Alice no País das Maravilhas» de Lewis Carroll.
Nesta viagem pelo País das Maravilhas, Alice encontra estranhas criaturas e vive aventuras incríveis que se transformam em palco numa colorida viagem com cenários e figurinos que constroem este fascinante mundo um tanto surrealista, onde surgem referências ao teatro do absurdo numa linguagem acessível às crianças.
Numa adaptação livre deste clássico do nonsense a Companhia de Teatro Magia e Fantasia aborda temáticas relacionadas com a filosofia para crianças, dando ao espectáculo, para além do cariz lúdico, a possibilidade de diálogo com os espectadores e estimulando a sua reflexão sobre temas como a diferença, a liberdade e o sonho.
«Alice, Alice, Alice» é uma viagem para crianças e adultos levando à cena um dos textos mais interessantes da história da literatura infantil. Com encenação de Paulo Lage e interpretação de Mónica Cunha e Pedro Sousa.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010


Domingo dia 19 de setembro as 22h na TV Cultura



Tema: Corpo e intensidade

No mundo de hoje, para alcançar os exigentes padrões de beleza estamos constantemente buscando a perfeição estética, a juventude eterna. Mas o que aquela imagem que vemos refletida no espelho revela? Neste programa, a psicanalista Hélia Borges fala sobre a nossa relação com o corpo e a nossa construção como sujeitos. Como o nosso jeito de ser se expressa no corpo? E como as transformações do corpo mudam o nosso jeito de pensar, de sentir? Também participa deste debate sobre corpo, aparência e saúde o filósofo André Martins, curador desta série do Café Filosófico que vai discutir o futuro do corpo.

sábado, 26 de junho de 2010

Amizade: o outro lado da filosofia

Você lerá neste artigo um esboço de um projeto maior, que terá o objetivo de mostrar a importância do filosofar nos dias de hoje, por incrível que pareça. É senso comum ouvirmos que a filosofia e os filósofos não são desse mundo e que habitam lugares além do humano. A frase mais conhecida é: os filósofos vivem numa torre de marfim, que designaria um mundo ou atmosfera onde intelectuais se envolvem em questionamentos desvinculados das preocupações práticas do dia-a-dia. Como tal, tem uma conotação pejorativa, indicando uma desvinculação deliberada do mundo cotidiano.       Pois bem. Isso não é verdade. Se não fosse os assuntos humanos a filosofia nem existiria. Sócrates andava pelas ruas de Atenas conversando com as pessoas abordando temas que tocavam diretamente a vida delas. Queria saber, conhecer e indagar sobre o que somos, como vivemos, o que é mais importante na vida, etc. Deste modo, o tipo de saber que buscava não era e nem estava distante das questões que colocamos a nós mesmos nos dias atuais.
      Na verdade, em Sócrates vemos uma prática do pensar que proporcionasse um tipo de sabedoria que conduzisse a algo prazeroso, porém sem desconsiderar o caráter dramático que é existir. E essa coisa boa pretendida poderia estar nas relações que travamos com os outros. Enfim, no diálogo que construímos com as pessoas, sem nenhum desmerecimento a alguém. É daí que emerge um novo modo de filosofar e, também, de viver.
      Filosofia é uma palavra grega originária de duas outras: philo (amizade, amor, respeito) e sóphos (saber, sabedoria). Vemos na história da filosofia um maior destaque ao sóphos, ao saber, ao conhecer teórico e contemplativo, daí a idéia de Torre de Marfim. Nem a idéia de sabedoria é evidenciada. Mas quero concluir com a primeira parte: philo, philia, amizade.
      É a amizade que nos aproxima mais ainda da realidade, dos assuntos humanos, pois nela revela-se a convivência, as olhadas, as escutas, os sabores que a vida na relação com o outro nos oferece. Se assim é, pensar deixar de ser algo meramente transcendente, mas que nos levaria a nos encostar nos odores, nas texturas, nas cores e nos paladares da existência, muitas vezes intraduzíveis e inenarráveis em palavras e conceitos.
      O filósofo apenas faz tentativas, apostas, aproximações, ao ponto de chegar a situações paradoxais e plenas de impasses, pois não pode e nem consegue compreender tudo sobre o que pensa.
      Olhando para nós hoje, falta-nos o tempo, a paciência e o cuidado de ir à praça pública, como Sócrates, para dialogar, pensar, fazer amigos, de maneira que modifique as nossas maneiras de ser e supere as individualidades, ou melhor, os individualismos que nos distancia e forma pessoas violentas, indiferentes, frias e quase desumanas.
      Assim, filosofar é também fazer amigos, é garantir um espaço público que nos transforme e nos abra para a convivência coletiva. A amizade, sem ignorar as tensões humanas, pode ser o caminho para novos modos de vida, para uma verdadeira vida filosófica. Filosofe!
Alonso Bezerra de Carvalho é professor da Unesp.
E-mail: alonsoprofessor@yahoo.com.br
Fonte: http://www.diariodemarilia.com.br/Noticias/84437/Amizade-o-outro-lado-da-filosofia

sábado, 29 de maio de 2010

TEXTO PARA FILOSOFAR COM CRIANÇAS

O homem virtuoso


Por,
Rosângela Trajano

      Todas as manhãs o homem saía cedo de casa com um saco de pães nas costas. Ele dava um pão para cada pobre que encontrava.
      Quando o homem encontrava um bichinho ferido levava para casa e cuidava dele.
      Se alguém pedisse para o homem fazer uma coisa má ele dizia que não. Desde criança aprendera a fazer o bem.
      Todas as noites o homem trazia para casa uma criança que não tinha onde dormir.
      Como o homem não tinha nome passou a ser chamado de “o homem virtuoso”, de tanto fazer o bem. Ganhou um apelido digno da sua bondade.

Exercício de compreensão:
1) O que o homem fazia de bom às pessoas?
2) Alguém já lhe pediu para fazer uma coisa errada ou má? O que você fez?
3) O homem recebeu o apelido de virtuoso. O que é uma pessoa virtuosa?
4) O que é virtude?
5) Você se acha virtuoso(a)?
6) Desenhe uma pessoa praticando um gesto virtuoso.
Professor(a) fale do conceito da virtude e cite exemplos de pessoas virtuosas.

FONTE:http://www.rosangelatrajano.com.br/textos_filum.htm

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Pequenos filósofos

Um de meus filhos ouviu no Discovery Channel que um dia o planeta Terra vai acabar. Dias depois, do nada, me perguntou:
– Quando a Terra acabar, Deus ainda vai existir?
Na cabeça dele a existência de Deus está relacionada à existência do ser humano. E não me pareceu que estivesse insinuando que Deus é uma invenção nossa. Talvez não visse razão para Ele continuar existindo em um mundo sem aqueles que foram criados à sua imagem e semelhança.
Pelo menos em uma questão a opinião dos menores de 12 anos é levada em consideração pelos próprios filósofos. Existe uma tendência entre as crianças em acreditar em vida após a morte. Essa tendência é objeto de discussão porque há quem acredite que a fé dos pequenos vem do que lhes é ensinado e há quem diga que eles acreditam naturalmente, mesmo que ninguém lhes fale sobre vida após a morte. Para o segundo grupo, estudar a atitude das crianças em relação à vida após a morte é uma forma de entendermos a relação do ser humano com divindades.
Aquela pergunta do meu filho tem um frescor e uma sinceridade que são impossíveis de reproduzir. Se eu tentasse provocar um filósofo com uma questão qualquer, teria dificuldade para elaborar. O que me leva a me perguntar: será que tenho vergonha de pensar livremente ou de exprimir minhas dúvidas? Será que não estou bloqueando as dúvidas sobre questões abstratas? Acho que é isso mesmo que está acontecendo. Não sou mais criança e meu estilo de vida não está deixando espaço para divagações.
Espera-se que adultos te­­nham certeza, que saibam guiar suas vidas por crenças bem enraizadas. Dá medo ter dúvidas e aí desconcentrar-se das tarefas que temos de tocar. Ou parecer perdido demais. Além do mais, podemos nos perguntar: que diferença pensar nesses temas abstratos fará na minha vida? Aliás, esta é uma pergunta para os filósofos!
Acredito na importância de pensarmos no abstrato. Mas me dou conta de que sou limitada ao formular as perguntas porque não tenho a originalidade e clareza do pensamento das crianças – que é ao mesmo tempo doce e violenta. Estou aqui tentando formular uma ou duas questões para serem respondidas por filósofos e meu exercício não está dando em nada.
Adulta ocupada e preocupada com questões muito práticas (e, admito, a maioria sem nenhuma transcendência) provavelmente faria alguma pergunta ridícula e bobinha. O inglês Anthony Gottlieb, que escreveu uma obra sobre filosofia (The Dream of Reason: A History of Phi­­losophy from the Greeks to the Renaissance), colecionou perguntas que as pessoas fazem quando têm a oportunidade de conversar com um filósofo. Ele reproduz um diálogo que teria acontecido durante uma viagem de avião e que segue o padrão típico das conversas que os discípulos de Sócrates e Platão andam en­­contrando por aí:
– Então você é filósofo?
– É, eu sou.
– Posso te fazer uma pergunta, uma pergunta filosófica?
– Pode.
– Estou gostando de um rapaz. Eu devo dizer isso a ele ou mandar um e-mail?
Até eu me sairia melhor...

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Estudantes açorianos gostam de Filosofia e valorizam a disciplina

A opinião é defendida por Emanuel Oliveira Medeiros, professor da Universidade dos Açores.

Baseado num estudo da Universidade dos Açores, o professor Emanuel Oliveira Medeiros afirma que a maioria dos jovens gosta de filosofia. e que "A filosofia é importante em todas as sociedades que se queiram democráticas e livres". Assim, segundo este justifica-se plenamente a criação do curso de "Filosofia e Cultura Portuguesa" no campus de Angra do Heroísmo da academia açoriana."A criação desye curso é muito relevante na Sociedade terceirense, do mesmo modo que é noutra ilha ou zona dos Açores e de Portugal no seu conjunto, enquanto partes de um Mundo que se quer sempre mais desenvolvido, culto, democrático e livre. Mas é importante que a Filosofia seja isso mesmo, isto é, que não negue, na prática, a sua própria essência e vocação" considera Emanuel Oliveira Medeiros.
O curso é lecionado a partir do próximo ano letivo e introduz a área de humanidades em Angra, como há muito vinha sendo reivindicado pelo campus.
Eduardo Oliveira Medeiros critica a privação de filosofia nas escolas de ensino profissional, que classifica como um "erro histórico". O professor acredita, no entanto, que a maior parte dos alunos gosta de filosofia e que reconhece a sua importância.O docente defende ainda que a Filosofia da Educação deveria ser uma disciplina obrigatória em todos os cursos do ensino superior que qualificam para a docência.
http://www.jornaldiario.com/ver_noticia.php?id=25389&sec=1

domingo, 31 de janeiro de 2010

Para Refletir



            O adolescente que acabou sua formação escolar
estava acostumado a aprender. Ele pensa que, 
de agora em diante, vai aprender Filosofia, 
o que, porém, é impossível, pois agora ele deve 
aprender a filosofar.

Immanuel Kant. Lições de Inverno de 1765-1766

sábado, 30 de janeiro de 2010

Lipman e a Filosofia para Crianças

 Lipman e a Filosofia para Crianças

Matthew Lipman é um dos mais reconhecidos educadores do nosso tempo. Criador de uma metodologia de ensino de filosofia para crianças, Lipman conquistou o respeito de importantes instituições ligadas à Educação, como a UNESCO, que divulga este trabalho por todo o mundo. Lipman foi um dos 8 educadores convidados a fazer parte da série “Os transformadores”.

Essa metodologia transcende o ensino de filosofia e inspira o trabalho de educadores de todas as áreas. A partir de uma comunidade de investigação (grupo formado por alunos e professor), os alunos conversam e pensam sobre questões essenciais ao homem. Temas como a verdade, a justiça, a beleza tomam significado para a criança e o adolescente a partir de um diálogo filosófico que tem lugar na sala de aula.

domingo, 10 de janeiro de 2010

NOTÍCIAS

Açores formam «filósofos» de palmo e meio


Angra do Heroísmo: projecto pioneiro a nível nacional «ensina» Filosofia a crianças do pré-escolar e do primeiro ciclo


      As crianças do pré-escolar e do primeiro ciclo de uma escola nos Açores estão a aprender a desenvolver o raciocínio filosófico. A Escola Tomás de Borba, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, está a desenvolver um projecto pioneiro a nível nacional que «ensina» Filosofia aos alunos do ensino básico.
      Uma vez por semana, durante 45 minutos, cerca de 100 crianças, contactam com a Filosofia através de jogos, adivinhas e contos. Estas actividades permitem «estimular, de forma simples e lúdica, técnicas básicas de raciocínio filosófico», revela Mário Cabral, coordenador do projecto, em declarações à Lusa.
      «Não ensino Filosofia, a minha preocupação é treinar os alunos para o raciocínio com regras», salienta o docente. Para atingir esse objectivo, o professor envolve as crianças em jogos e brincadeiras que permitem «descodificar conceitos filosóficos e estruturar o pensamento».
      «Um dia mostrei aos meus alunos uma semente de jacarandá, que tem a capacidade de dar origem a uma árvore, o que serviu para chegar ao conceito de potência e acto», salienta Mário Cabral. O professor recorda que essa foi uma das aulas que «correram melhor».
      «É como se fosse uma ginástica mental, que é feita através de jogos e contos. Ao contrário do que se possa pensar, as crianças estão aptas, por natureza, à grande vantagem da filosofia, que é saber pensar», sublinha.
      O projecto arrancou no ano lectivo de 2008/2009 com três turmas do primeiro ciclo do ensino básico. O «entusiasmo» das crianças «cresceu» de tal forma que, neste ano lectivo, abrange também uma turma do pré-escolar.
Fonte:
http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/acores-ensino-filosofia-criancas-primeiro-ciclo-tvi24/1114578-4071.html

Notícias / Sociedade

Alunos do pré-escolar aprendem Filosofia na Terceira

Por: António Gil


Platão

      Podem ainda não saber quem foi Platão ou Aristóteles, mas 20 alunos de uma turma do pré-escolar da Escola Tomás de Borba, na Terceira, estão a aprender a descodificar conceitos filosóficos e a estruturar o pensamento.
      O projecto pioneiro no panorama educativo açoriano arrancou no ano lectivo 2008/2009 com três turmas do 1º ciclo do ensino básico e este ano estendeu-se a uma turma da pré-escolar.
      “Filosofar é pensar com regras”, afirmou o professor Mário Cabral, coordenador do projecto que visa ensinar de forma simples técnicas básicas de raciocínio filosófico a crianças de tenra idade.
      Segundo o docente, ensinar Filosofia às crianças pode ajudar, por exemplo, a introduzir e explicar valores como o altruísmo, a higiene e desenvolver o pensamento lógico, dedutivo e argumentativo através de jogos, textos ou uma simples conversa.
      “A história da Filosofia será estudada quando chegar a altura certa. Nesta fase inicial trata-se de estimular o raciocínio lógico, poder argumentativo e introduzir valores”, sustentou Mário Cabral, para quem existe um sem número de razões para começar a ensinar Filosofia às crianças, mesmo antes de se saber ler e escrever.
      “Ao contrário do que se possa pensar as crianças estão aptas, por natureza, à grande vantagem da Filosofia, ou seja, saber pensar. Ao fim ao cabo estas aulas fornecem instrumentos para os alunos saberem pensar. Tudo surge de forma natural. O que fazemos é desenvolver o que naturalmente elas já têm”, sustentou o docente, acrescentando que todo o material didáctico utilizado nas aulas foi concebido na escola.
      A grande diferença entre a filosofia para crianças e para adultos reside no bom senso da escolha das metodologias e linguagens adequadas à idade dos intervenientes.
      Este projecto, de inovação pedagógica e curricular da Escola Tomás de Borba, decorre semanalmente, com aulas de 45 minutos, embora a Filosofia seja transversal a todas as disciplinas
      No total estão envolvidos neste projecto cerca de 100 alunos, do pré-escolar ao primeiro ciclo do ensino básico.
      Além do trabalho directo com os alunos, o projecto contempla formação específica para os professores responsáveis pelas turmas, enquanto membros integrantes das aulas, e para a generalidade dos docentes da escola Tomás de Borba que assim queiram.
      Para a Secretaria Regional da Educação e Formação este projecto pioneiro constitui “mais um exemplo da dinâmica e empenho das escolas açorianas em proporcionar aos alunos um ensino de excelência centrado na formação integral das crianças e jovens açorianas”.
António Gil com GaCS

Fonte: http://ww1.rtp.pt/acores/index.php?article=12351&visual=3&layout=10&tm=7

sábado, 2 de janeiro de 2010

Notícias

Pequenas grandes crianças


Marcelo Barroso


Pequenas somente no tamanho. Esse é cada vez mais o panorama que define as crianças desse início de século XXI. Com uma disponibilidade de informações e ferramentes sensivelmente superior ao que tinham as crianças do século passado, os pequenos se desenvolvem cada vez mais cedo, com uma capacidade de discernimento, armazenamento de informações e raciocínio, cada vez maior. O fenômeno é percebido tanto por pais quanto por professores e especialistas e vem dando início à necessidade de que os pais também aprendam a lidar com esse novo mundo.

A reportagem da TRIBUNA DO NORTE conversou com crianças, pais e educadores e percebeu que os meninos e meninas têm cada vez mais voz: tanto no que diz respeito à abertura dos pais quanto na capacidade de se expressar e “participar” do mundo dos adultos de forma saudável. Heitor, Artur, Bernardo e Milena são bons exemplos dessa nova forma de crescer e se desenvolver sem perder a infância.

Crianças com voz e vez na sociedade

Toda criança é um prisioneiro político. A afirmação categórica do filósofo francês Gilles Deleuze data de meados da década de 70 e se refere ao fato de que as crianças, pelo menos até aquela data, não tinham direito à voz e estavam sempre sujeitas à vontade do adulto. Mesmo ainda não sendo senhores e senhoras de si, as crianças do século XXI experimentam uma maior abertura de diálogo, consequência de sua capacidade de raciocínio e compreensão, bem maiores do que de crianças do “século passado”. O fenômeno é perceptível tanto entre especialistas quanto no cotidiano dos pequenos.

Heitor Pereira Paiva tem nove anos e já tem esposa, além de dois filhos. Impossível na vida real, a experiência de casado é viável virtualmente. Trata-se do jogo Habbo Hotel, disponível na internet, e que simula a vida real com várias nuances, como comprar mobília, fazer amigos, ganhar dinheiro, etc. Cada participante cria um personagem e interage entre si. Daí, surgem amizades virtuais, casais virtuais, vidas virtuais. Para desfrutar da diversão, é preciso seguir uma série de passos, alguns até complicados, como cadastro, escolha das características do personagem, etc. O que para muitos adultos seria difícil de manipular e entender, não parece complicar a diversão de Heitor.

Os dois pontos – facilidade para se comunicar e se relacionar com o mundo adulto e o acesso a tecnologias e modos de vida cada vez mais modernos – encontram um ponto comum quando se pensa na amplitude de informações disponíveis para crianças em tempos de internet. “Hoje as crianças já se desenvolvem com muita rapidez de pensamento, reflexo e capacidade de raciocínio. Isso traz a possibilidade de uma nova relação com os pais e com o mundo porque elas passam a entender mais coisas e se expressar com mais facilidade”, opina a psicóloga Ádria Tabosa.

Para conferir ao vivo a facilidade de processamento e compreensão das crianças, a reportagem da TRIBUNA DO NORTE conversou com quatro crianças, entre elas o já citado Heitor. Todas elas irão completar 10 anos em 2010. Todas representam bem o que um dia irá se chamar geração 2000. A conversa com as crianças impressiona, a priori, justamente pela fluidez das palavras: as crianças falam e falam bem.

Artur Mulatinho, por exemplo, filho do jornalista Alexandre Mulatinho, consegue se expressar e se explicar de forma tão “adulta” que chega a impressionar o pai. “Lembro que na minha época existia uma diferença clara entre conversa de adulto e conversa de criança. Hoje, a criança fala sobre tudo”, diz. Não é exagero. A forma como Artur e seu amigo Bernardo, ambos de nove anos, discorrem sobre futebol é uma evidência. O assunto pode parecer infantil, mas o tratamento é de um profissional. “Prefiro o Messi ao Cristiano Ronaldo e ao Kaká. O Messi dribla melhor na maioria das vezes e faz gols em jogos mais decisivos”, diz Artur. Na conversa, as duas crianças são capazes de lembrar a trajetória de jogadores e a escalação de clubes com uma diferença do que era mais comum há 10 anos atrás: a preferência é por times estrangeiros. Artur e Bernardo, por exemplo, são capazes de citar pelo menos três clubes em cada um dos principais países da Europa. Não é todo adulto que sabe.

Por outro lado, a facilidade e a rapidez da criança cria uma necessidade a mais no pai e na mãe. “É preciso que os adultos saibam compreender o contexto em que vivem essas crianças, que muitas vezes é bastante do que o pai e mãe cresceram. Hoje, a criança já sabe falar com mais clareza, já questiona e demanda uma atenção maior”, diz Ádria Tabosa. As diferenças também são visíveis para os pais. “Eu percebo que hoje existe muito mais diálogo do que quando eu era criança. O pai precisa estar atento porque ao mesmo tempo em o acesso às informações é amplo, isso pode ser usado para o bem ou para o mal”, diz Mulatinho.

Computadores fazem parte da rotina

No meio da tarde, Milena Fernandes não tem dúvidas. Se a mãe, Anne Fernandes, não atende o celular, a menina corre para o MSN. “Quando eu tento falar com meu pai e minha mãe e eles não atendem, eu tento pelo MSN. Quase sempre dá certo”, afirma a menina, que também tem nove anos, acrescentando que usa o serviço de mensagens instantâneas para conversar com as amigas do colégio e a família. “Minha mãe não me deixa conversar com estranhos”, diz.

Orkut, MSN, Twitter, informação on line. Tudo isso é aprendido desde cedo. No caso de Artur e Bernardo, os dois “especialistas” em futebol internacional, a lista de contatos no MSN é ampla. Cada um tem cerca de 30 pessoas como amigos virtuais. Ambos também fazem parte da rede social mais famosa do Brasil (não é demais lembrar que o Orkut é permitido apenas para maiores de 18 anos, embora seja uma regra muito pouco respeitada). “Uso mais para conversar com meus amigos e primos. Não tenho amigos somente virtuais. Conheço todos pessoalmente”, explica Artur.

Ao mesmo tempo, se o videogame poderia, até um passado recente, ser considerado uma novidade, hoje os jogos de computador, muitos jogados apenas na internet, ganham cada vez mais espaço. Bernardo e Artur preferem o videogame e o último, inclusive, tem dois deles: um Playstation II e um Nitendo Wii. Contudo, Heitor já embarcou na onda dos jogos on line. O garoto joga vários títulos além de Habbo, onde conversa com amigos e cuida de sua “esposa e filho”. “Gosto de jogar todo tipo de jogo, muitos deles na internet. Gosto de futebol, lego, boxe, jogos de avião e luta. Sou bem eclético”, aponta.

Mais uma vez, a amplitude de ferramentas pede uma atenção especial dos pais, que são obrigados a se preocuparem com os efeitos, positivos ou negativos, que a avalanche de eletrônica pode ocasionar. No caso das ferramentas de comunicação, o perigo é justamente expor os pequenos a contatos indesejáveis, na internet. “Na minha casa não há filtro de conteúdo na internet, mas costumo acompanhar os contatos no MSN e Orkut e as páginas visitadas. É uma coisa que pode ser boa ou ruim e precisa ter alguém para orientar”, diz Alexandre Mulatinho. Cledivânia Pereira, jornalista, e mãe de Heitor, vai mais além. “Não deixo o Heitor ter Orkut, MSN, nada disso. A criança fica suscetível a conhecer gente estranha, mal intencionada. Deixo para mais tarde”, encerra.

Brincadeiras tradicionais não são esquecidas

A forma de se comunicar e de se divertir é um ponto fascinante quando se pensa nas mudanças velozes que o mundo tem passado. Tudo o que diz respeito ao virtual, ao digital e à tecnologia impressiona. Tanto que a primeira idéia que se tem é que essas novas formas de diversão e comunicação, virtuais, podem substituir de uma vez por todas o velho e bom contato direto. Ledo engano. A meninada curte o videogame, mas não abre mão de brincar na rua ou no playground.

Das quatro crianças entrevistadas pela TRIBUNA DO NORTE, todas demonstraram que a quantidade de tempo dedicado ao videogame e ao computador é praticamente igual ao vivido jogando bola, brincando de boneca, polícia e ladrão, entre outras. Algumas brincadeiras de fato ficam no passado – existem apenas na saudade dos pais – mas outras sobrevivem ao passar dos anos.

Milena Fernandes não esconde que adora jogar no computador e no videogame, mas é no quarto repleto de barbies que ela e suas amigas realmente se encantam. A menina de nove anos confessa que já perdeu as contas de quantas bonecas têm – são muitas, de todas as cores, roupas, para todas as “ocasiões”. “É o que mais gosto de brincar, se pudesse brincava todo dia, mas minha mãe não deixa durante a semana porque preciso estudar”, conta. As barbies são tão importantes na vida de Milena que têm direito a um quarto só para elas.

Como Milena mora em um condomínio de casas, o velho costume de brincar na rua permanece vivo no cotidiano da menina. O pé imobilizado por conta de uma torção é a prova viva. “Torci o pé brincando de correr na rua”, conta. Os jogos que Milena e seus amigos brincam são os mesmos que se brincam há dezenas de anos: esconde-esconde, pega-pega (hoje chamado de tica-tica), bandeirinha, etc.

Para os meninos, a “paixão nacional” ainda é campeã. Jogar bola na rua, uma tradicional e saudável mania brasileira, sobrevive como principal fonte de diversão da maioria. Contudo, uma curiosa mudança é bem perceptível: a rejeição de brincadeiras mais violentas.

“Cuzcuz” é uma das mais famosas. Consiste em ir retirando a terra que segura um pedaço de pau em pé até que ele caia. Quando o graveto vai ao chão, o autor da proeza precisa correr para a mancha e até lá vai apanhando do resto da meninada. Artur e Bernardo, quando ouvem o repórter falar na brincadeira, franzem o rosto. Conhecem o jogo, é claro, mas não brincam de jeito nenhum. “Já me explicaram como é, mas nunca joguei”, diz Bernardo. Heitor, da mesma forma, não gosta. “Não gosto de jogo violento, já ouvi falar como é, mas nem eu nem meus amigos gostamos”, encerra.
Fonte: http://tribunadonorte.com.br/noticia/pequenas-grandes-criancas/136539